#25 - Eliú repreende Jó e os seus três amigos


Jó estava convencido da sua inocência, e por isso os três amigos desistiram de continuar a discutir com ele. 

Acontece que ali estava um homem chamado Eliú, filho de Baraquel e descendente de Buz, do grupo de famílias de Rão. Eliú ficou muito zangado com Jó porque este dizia que era inocente e que Deus era culpado. E também ficou zangado com os 3 amigos porque eles não puderam responder a Jó, dando assim a ideia de que Deus estava errado. 

Eliú esperou para falar no fim, pois os outros eram mais velhos do que ele. Quando viu que eles não souberam como responder a Jó, Eliú ficou zangado. 

Então Eliú, filho de Baraquel e descendente de Buz, disse: Eu sou moço e vocês são idosos. Foi por isso que não me atrevi a dar a minha opinião. Pensei assim: Que fale a voz da experiência, que os muitos anos mostrem a sua sabedoria! Mas acontece que dentro das pessoas há um espírito, há um sopro do Todo-Poderoso que dá sabedoria. Nós não ficamos mais sábios com a idade, nem sempre os velhos sabem o que é certo. Portanto, escutem o que digo, pois eu também vou dar a minha opinião. 

Esperei que vocês falassem e escutei as suas razões. Enquanto vocês escolhiam as melhores palavras, eu prestava toda a atenção. Mas nenhum de vocês convenceu Jó, nem deu resposta às suas palavras. 

Como é que vocês podem dizer que descobriram a sabedoria? É Deus, e não um ser humano, quem terá de dar resposta a Jó. Eu nunca teria respondido como vocês; mas Jó estava falando com vocês e não comigo. 

Jó, estes três estão derrotados e não têm mais palavras para continuar a discutir. Eles já pararam; não falam mais. Será que devo continuar esperando enquanto estão calados? Não! Eu darei a minha resposta agora e direi o que penso sobre o assunto. Tenho muito o que falar e já não consigo mais ficar calado. 

Se eu não falar, sou capaz de estourar com um odre cheio de vinho novo. Não aguento mais; preciso desabafar, quero dar a minha opinião. Não vou tomar partido nesta discussão e não vou adular ninguém. Eu não costumo bajular; e, se bajulasse, o Criador logo me castigaria. (Jó 32)

Por isso, Jó, escute as minhas palavras e preste atenção em tudo o que vou dizer. Estou pronto para começar e vou falar o que penso. Darei a minha opinião com franqueza; as minhas palavras serão sinceras, vindas do coração. Pois foi o Espírito de Deus que me fez, e é o sopro do Todo-Poderoso que me dá vida. Responda-me, se for capaz; prepare-se para discutir comigo. 

Para Deus, você e eu somos iguais; eu também fui formado do barro. Por isso, não tenha medo de mim; a minha intenção não é esmagar você. Creio que ouvi você dizer o seguinte: Não sou culpado; não fiz nada de errado. Estou inocente; não cometi nenhum pecado. É Deus quem inventa motivos para me atacar; ele me trata como se eu fosse um inimigo. Ele me amarrou os meus pés com correntes e fica vigiando tudo o que eu faço. 

Mas eu lhe digo que você não tem razão, pois Deus é maior do que as criaturas humanas. 

Por que você acusa Deus, afirmando que ele não dá atenção às nossas queixas? Deus fala de várias maneiras, porém nós não lhe damos atenção. 

De noite, na cama, quando dormimos um sono profundo, ele fala por meio de sonhos ou de visões. Deus fala aos nossos ouvidos, e os seus avisos nos enchem de medo. Ele fala com a gente para que deixemos de pecar e para que não nos tornemos orgulhosos. Assim, ele nos livra da morte e não deixa que nos joguem na sepultura. 

Outras vezes, Deus castiga com doenças e com fortes dores que não passam. O doente perde o apetite e não quer nem ver as comidas mais gostosas. Ele emagrece, vai se acabando e no fim vira pele e osso. Ele está às portas da morte; logo será levado para a sepultura. Pode ser que ele venha a ser socorrido por um anjo, um dos milhares de anjos de Deus, que ensinam a gente a fazer o que é certo. O anjo terá pena dele e pedirá a Deus: Solta-o! Ele não deve descer o mundo dos mortos. Aqui está o pagamento do seu resgate. Então ele terá saúde novamente, e o seu corpo será forte como era a juventude. Quando orar, Deus o atenderá. Ele o adorará com alegria, e Deus o aceitará de novo como um homem direito. Ele dirá a todos: Pequei, cometi injustiças, mas Deus não me castigou. Ele me salvou da morte; eu ainda posso ver a luz. 

Deus faz tudo isso com a gente e faz várias vezes. Ele não deixa que morramos, e assim continuamos a ser iluminados pela luz da vida. Agora, Jó, escute com atenção; fique calado, pois vou falar. Se você tem alguma coisa a dizer, responda, pois eu gostaria de lhe dar razão. Se não, fique calado e escute, que eu lhe ensinarei como ser sábio. (Jó 33)

Eliú disse mais: Vocês não são sábios e instruídos, escute o que vou dizer. 

Assim como os ouvidos julgam o valor das palavras, e o paladar prova os alimentos, assim nós agora vamos examinar o caso e resolvê-lo do jeito que nos parecer melhor. 

Jó está dizendo que é inocente e que Deus não quer lhe fazer justiça. E pergunta: Como é que eu poderia mentir, dizendo que estou errado? Sofro de uma doença que não tem cura, embora não tenha cometido nenhum pecado. Neste mundo não há ninguém como Jó, para quem é tão fácil zombar de Deus como beber um copo de água. Ele anda com homens maus e se ajunta com gente que não presta. E diz assim: Não adianta nada procurar agradar a Deus. 

Agora, vocês que têm juízo, me escutem. Será que Deus faria alguma coisa errada? Será que o Todo-Poderoso cometeria uma injustiça? Ele nos paga de acordo com o que fazemos e dá a cada um o que merece. 

Na verdade, o Deus Todo-Poderoso não faz o mal e não é injusto com ninguém. Quem entregou o poder a Deus? Quem o faz governador do Universo? Se Deus quisesse, poderia fazer voltar para si o fôlego, a respiração da gente; então todas as pessoas morreriam juntas, no mesmo instante, e voltariam de novo para o pó. 

Agora, Jó, se você é sábio, escute e preste atenção no que vou dizer. Se Deus odiasse a justiça, não poderia governar o mundo. Será que você quer condenar aquele que é justo e poderoso? Deus condena os reis e as autoridades quando são maus, quando não prestam. Ele não mostra preferência pelas pessoas que estão no poder, nem favorece os ricos em prejuízo dos pobres, pois todos foram criados por ele. 

A morte pode vir de repente, no meio da noite. A pessoa tem um ataque e morre. Deus não precisa de ajuda para matar os poderosos. Pois ele sabe tudo o que fazemos e vê todos os passos que damos. Não existe nenhum lugar, por mais escuro que seja, onde um pecador possa se esconder de Deus. Deus não precisa marcar um dia para que uma pessoa se apresente a fim de ser julgada por ele. Ele não necessita de examinar a vida dos poderosos para acabar com eles e dar a outros o seu lugar. Pois Deus conhece o que eles fazem; de noite ele os derruba e esmaga. Em público, na frente de todos, Deus os castiga como se fossem criminosos porque eles se afastaram dele e não quiseram obedecer a nenhum dos seus mandamentos. Ele fizeram com que os gritos dos pobres e explorados subissem até Deus, e ele os escutou. Mas, se Deus se calar, ninguém poderá condená-lo. Se ele esconder o rosto, as pessoas e as nações ficarão sem defesa e nada poderão fazer para evitar que homens maus a governem e explorem. 

Jó, será que você já reconheceu diante de Deus que você sofreu por causa dos seus pecados e que prometeu que não vai pecar mais? Será que você pediu a Deus que lhe mostrasse as suas faltas e resolveu parar de praticar o mal? Se você não aceita o que Deus faz, como espera que ele faça o que você quer? Você é quem precisa responder, e não eu; diga-nos o que está pensando. As pessoas sábias e sensatas que me estão escutando certamente dirão assim: Jó não sabe o que está falando; o que ele diz não faz sentido. É só examinar bem as suas palavras, e a gente vê que ele responde como um perverso. Jó é pecador, um pecador rebelde. Na nossa presença, zomba de Deus e não pára de falar contra ele. (Jó 34)

Em seguida Eliú disse:

Jó, você não tem o direito de dizer que para Deus você é inocente e também não pode perguntar assim: Ó Deus, será que te sentes mal com o meu pecado? E que vantagem tenho se não pecar? 

Pois eu vou responder a você e também aos seus amigos. Olhe para o céu e veja como as nuvens estão muito acima de você. Se você peca, isso não atinge a Deus lá no alto; as suas faltas, por muitas que sejam, não vão prejudicar a Deus. Se você faz o bem, não está ajudando a Deus; ele não precisa de nada que é seu. São os outros que sofrem por causa dos pecados que você comete; e também são eles que são ajudados quando você pratica o bem. 

Os homens, quando são perseguidos por todos os lados, gemem e gritam, pedindo que alguém os livre das mãos dos poderosos; porém não voltam para Deus, o seu Criador, que dá forças nas horas mais escuras. Eles não voltam para Deus, que os torna sábios, mais sábios do que as aves e os animais. Eles gritam por socorro, mas Deus não responde porque são orgulhosos e maus. Mas é falso dizer que Deus não ouve ou que o Todo-Poderoso não vê. 

Jó, você diz que não pode ver a Deus; mas espere com paciência, pois a sua causa está com ele. Você pensa que Deus não castiga, que ele não presta muita atenção no pecado. Não adianta nada continuar o seu discurso; você fala muito, porém não sabe o que está dizendo (Jó 35) 

Eliú continuou a falar: Ele disse: Jó, tenha um pouco mais de paciência, pois ainda vou lhe mostrar que tenho outras coisas a dizer a favor de Deus. Usarei os meus profundos conhecimentos para mostrar que Deus, o meu Criador, é justo. Tudo o que vou dizer é verdade; quem está falando com você é realmente um sábio. 

Como Deus é poderoso! Ele não despreza ninguém. Deus sabe todas as coisas. Ele não deixa que os maus continuem vivendo e sempre trata os pobres com justiça. Deus protege os homens corretos, deixa que eles governem como reis e assim tenham uma alta posição para sempre. Mas, se alguns são presos com correntes ou são amarrados com as cordas dos sofrimentos, então Deus lhes mostra que isso é por causa do que fizeram, que é o castigo pelos seus pecados e pelo seu orgulho. 

Deus faz com que escutem os seus avisos e manda que abandonem o pecado. Se obedecem a Deus e o adoram, então têm paz e prosperidade até o fim da vida. Mas, se não se importam com Deus, então morrem na ignorância, atravessam o rio e entram no mundo dos mortos. 

Aqueles que têm um coração perverso guardam raiva e, mesmo quando são castigados, não clama pedindo socorro. Desonram o seu corpo entre si e morrem em plena mocidade. Mas Deus nos ensina por meio do sofrimento e usa a aflição para abrir os nossos olhos. 

Jó, Deus o livrou dos perigos e o deixou viver em segurança. À sua mesa sempre se comeu do bom e do melhor. Mas você foi julgado e condenado e agora está recebendo o castigo que merece. Cuidado, não aceite dinheiro para torcer a justiça, não deixe que as muitas riquezas o seduzam. Não adianta nada gritar pedindo socorro; todo o seu poder não tem nenhum valor agora. Não fique desejando que chegue a noite em que as nações serão destruídas. Você está sofrendo por causa da sua maldade; cuidado, não se volte para ela!

Como é grande o poder de Deus! Quem é capaz de governar tão bem como ele? Ninguém pode dar ordens a Deus, nem acusá-lo de praticar o mal. O mundo inteiro o louva pelo que ele faz, e você também não esqueça de louvá-lo. Mesmo de longe todos nós vemos e admiramos o que Deus está fazendo. Ele é grande demais para que o possamos conhecer; nós não podemos calcular quantos anos já viveu. 

Deus faz com que a água da terra suba para um depósito e depois a transforma em gotas de chuva. As nuvens derramam a água, que cai em aguaceiros sobre a terra. Quem entende o movimento das nuvens ou o barulho dos trovões no céu, onde Deus mora? Deus espalha relâmpagos em volta de si, mas o fundo do mar continua escuro. É assim que Deus alimenta os povos e lhes dá comida à vontade. Ele pega o raio com as mãos e manda que atinja o alvo. O gado sente que a tempestade está perto, e o trovão avisa que ela vem aí. (Jó 36)

A tempestade me faz bater o coração, como se ele fosse pular para fora do peito. Escutem o estrondo da voz de Deus, o trovão que sai da sua boca. Ele solta relâmpagos por todos os lados do céu e de uma ponta da terra até a outra. Então ouve-se o rugido da sua voz, o forte barulho do trovão; e durante todo o tempo os relâmpagos não param de cair. 

Deus troveja com a sua voz maravilhosa; ele faz grandes coisas que não podemos compreender. Deus manda que caia neve sobre a terra e também fortes pancadas de chuva. Assim, faz com que as pessoas fiquem em casa, sem poderem trabalhar, para que todos saibam que é ele quem age. 

Os animais entram nas suas tocas e ali ficam escondidos. As tempestades violentas vêm do Sul, e o frio vem do Norte. O sopro de Deus congela as águas, que assim ficam cobertas de gelo. Deus enche de água as nuvens, e elas lançam os relâmpagos. 

Seguindo a ordem de Deus, as nuvens se espalham em todas as direções. Elas fazem tudo o que Deus manda, em toda parte, no mundo inteiro. Deus faz cair chuva sobre a terra ou para castigar a gente ou para mostrar que tem amor por nós. 

Jó, pare um instante e escute; pense nas coisas maravilhosas que Deus faz. Será que você sabe como Deus dá a ordem para que os relâmpagos saiam brilhando das nuvens? Você sabe como as nuvens ficam suspensas no ar? Isso é uma prova do infinito conhecimento de Deus. Será que você, que fica sufocando de calor na sua roupa, antes de vir a tempestade de areia trazida pelo vento sul, será que você pode ajudar Deus a estender o céu e fazer com que fique duro como uma placa de metal fundido? 

Ensine-nos o que devemos dizer a ele, pois não somos capazes de pensar com clareza. Eu não teria o atrevimento de discutir com Deus, pois isso seria pedir que ele me destruísse. Não é possível ver o sol quando está escondido pelas nuvens; mas ele brilha de novo, depois que o vento passa e limpa o céu. No Norte vemos uma luz dourada, e a glória de Deus nos enche de profunda admiração. 

Não podemos compreender o Todo-Poderoso, o Deus de grande poder. A sua justiça é infinita, e ele não persegue ninguém. Por isso, as pessoas o temem, e ele não dá importância aos que acham que são sábios. (Jó 37) 

OBSERVAÇÃO:

Enquanto os três amigos de Jó afirmaram que ele estava sofrendo devido a algum pecado cometido, Eliú declarou que o sofrimento de Jó não cessaria até que ele reconhecesse o seu presente pecado, ele estava pecando em virtude do sofrimento, estava se tornando arrogante à medida que ele tentava defender sua inocência. Eliú tentou persuadir Jó a olhar seu sofrimento de uma perspectiva diferente e com um propósito maior.


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